outubro 18, 2010

ENSINANDO E APRENDENDO COM OS MINEIROS DO CHILE

Era pra ser um texto falando bem e carregado de emoção sobre o resgate dos mineiros no Chile.
Ontem, como boa parte do mundo, acompanhei emocionado o resgate dos 33 trabalhadores da mina de San Jose, no deserto do Atacama, o famoso deserto chileno.
Não contive as lágrimas ao ver muitos dos resgates e imediatamente comparações naturais com a igreja me vieram à mente. Tanto que pensei em colocar o nome neste artigo de “aprendendo a ser igreja com os mineiros do Chile”. Desisti.
Não... não foi em vão a emoção que senti e muitas das lições, pelo menos por algum tempo aprendidas. As analogias são inevitáveis.
Em primeiro lugar, falemos dos verdadeiros heróis, que não foram os mineiros. Os grande heróis da história foram os homens da equipe de resgate, principalmente aqueles que desceram ao fundo da mina para ajudar no resgate dos que ali estavam. Quantas comparações vêm à mente:
> eram homens perdidos nas trevas;
> alguém teve que se fazer como eles para que pudesse salvá-los;
> os méritos são todos da equipe de resgate, já que eles por suas próprias forças jamais sairiam dali
Isso é só o começo. As semelhanças continuam com aquilo que a igreja deveria ser: Pelo que sabemos, todos se uniram de forma a manter a vida de cada um, revezando-se em turnos, em apoio, em mútuo auxílio. Ah! Como falta isso em nossos arraiais onde o que mais se vê são homens devorando homens.
Outro fato interessante: as pessoas que aguardavam ansiosas no “acampamento da esperança”, não saíram de lá enquanto o último não fosse resgatado. TODOS valiam a pena, TODOS eram importantes. Não havia sequer o desejo de “assim que o meu querido sair, eu vou-me embora e que se danem os outros”. Que coisa linda! O desejo de que todos se salvem é maior do que a festa “do meu que se salvou”.
Há ainda uma outra lição, esta para a liderança: o último mineiro a sair, Luis Urzúa, era justamente o “líder” do grupo. Quanta diferença da liderança de hoje, que quer ser servida em primeiro lugar, antes das suas ovelhas. Como já ouvi de um pastor batista, no púlpito de sua igreja, justificando seu salário astronômico e seus luxos: “vocês têm que entender que a prosperidade do pastor é símbolo da prosperidade da igreja”. Quanta bobagem numa única frase! Mas Urzúa entendeu o verdadeiro papel do líder: animar a todos os liderados, servir ao invés de ser servido, e ser o último a “receber a benção”.
Pois é... tantas belas lições para a igreja... corpo de Cristo, que deve aprender a viver em comunhão verdadeira, apoio mútuo, desejo de que o outro também seja abençoado e uma liderança que se volta totalmente para o outro.
Tudo ia bem... até que...
Num dos últimos noticiários sobre o resgate, uma informação veio à tona: famílias já cobravam caro para dar o testemunho da libertação de seus parentes e outros já fechavam contratos de exclusividade para contarem suas histórias.
Minha conclusão: nos ensinaram o que havia de melhor....e aprenderam de nós o que temos de pior: a comercialização das bênçãos e da fé alheia.
Triste realidade essa do ser humano!

Texto de José Barbosa Junior - sugerido por Renato Fontes
Boletim de 17/out/2010

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